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Data de Publicação: 07-07-2020

A igreja e a pandemia

O ano de 2020 com certeza já entrou para a história humana. No futuro esse ano será fator de estudos e análises por pessoas de diversas áreas de especialização. Irão lembrar desses dias, criticar algumas de nossas ações e elogiar outras, contudo, uma coisa é certa, irão aprender com tudo isso.

Começamos o ano, como tantos anos anteriores e seguimos com os planos traçados no fim do ano. Mas 2020 provou ser verdadeira as palavras de Jesus quando afirmou que o amanhã não pertence a nós.

Em poucos dias o mundo todo se viu diante de um pandemia que fechou as fronteiras entre os países, entre pessoas, entre amigos e até entre familiares. Uma pandemia que trouxe o caos na saúde pública, com números incontáveis de mortos, caos na relações sociais, na política e na economia mundial.

Mas esse artigo não se presta a todas essas análises, mas sim das consequências, negativas e positivas, da pandemia na funcionalidade da igreja como organismo divino e também organização humana.

Uma vez tomados pela triste realidade de uma doença inexplicável, incontrolável, porém real e presente em nossas vidas, fomos obrigados a determinadas situações inusitadas. Vamos colocar cada uma delas partindo de seus aspectos negativos para os positivos. 

1- O isolamento social. Essa foi uma medida tomada em quase todas as nações da terra. As pessoas, sem distinção foram confinadas em seus lares, crendo que assim estariam seguras da contaminação. Mas o isolamento trouxe consigo outros males. As pessoas sem informações claras das autoridades sanitárias e bombardeadas com o negativismo da mídia, foram tomadas por um enorme sentimento de medo da morte. Esse sentimento afastou pais de filhos, avós de netos, amigos de outros e até líderes de suas reais funções no reino. A preocupação se tornou pessoal e não coletiva em muitos casos. A medida que os dias de isolamento aumentavam, assim como a perdas de vidas, dos negócios, do emprego e, o pior de todos, a falta de contato com as pessoas, veio a depressão. Outro fator negativo gerado pelo isolamento foi os conflitos familiares. Violência doméstica, abusos infantis e o crescente do número de divórcios, revelou a fragilidade da convivência familiar.

2- Mudanças nas atividades eclesiásticas. Com o isolamento a igreja não pode realizar seus tradicionais cultos e nem movimentos de evangelização em massa e pessoal. Isso impactou drasticamente o crescimento das igrejas, e em alguns casos, houve até decréscimo, com o fechamento de muitos templos. O sistema educacional da igreja também sofreu muito, em especial o infantil e os treinamento de líderes.

Em meio a todos esses desafios a igreja teve de reagir, para manter sua missão como corpo de Cristo na terra. Vejamos alguns deles:

1- Poder de adaptação. Era preciso continuar com a pregação, tão necessária no combate aos males da pandemia, bem como no fortalecimento da fé. Para tal, a igreja achou o caminho da internet, através do qual procurou manter todo tipo de aproximação com os confinados, com cultos on-line, mensagem em celulares, vídeo conferências, entre outros. Nada que pudesse de fato resolver os danos do isolamento, porém, capazes de amenizar seus nefastos efeitos, principalmente em seus primeiros momentos, que foram os mais difíceis. O momento exigiu uma mudança na liturgia das igrejas. Cultos pela internet, ceias servidas em regime de drive-tru ou on-line.

2- O retorno a oração e ao culto devocional. Não me lembro de ver a igreja orar tanto quanto nesses dias. Relógios de oração, orações nos lares, nas calçadas. Até o presidente da república dobrou seus joelhos na rua. Em seus lares os crentes se voltaram mais para a leitura bíblica e culto doméstico. Foi um grande movimento de "volta a Deus". Muitos se arrependendo de seus pecados e voltando para Cristo.

3- A mudança no púlpito. Com o fechamento das igrejas, muitos, acostumados a ouvir grandes pregadores itinerantes, tiveram que passar a ouvir mais seus pastores. O púlpito literalmente voltou ao domínio dos pastores, que tiveram que assumir sua função como pregador para o rebanho.

4- O alcance do Evangelho. Com o recurso da internet, o alcance das ministrações mais que duplicou. Pessoas de outras igrejas, cidades, estados e até países, passaram a ouvir o Evangelho, inclusive os não crentes.

5- O espírito de solidariedade. Nesse período de crise, floresceu o espírito de solidariedade. Muitos se comoveram com a necessidade alheia e se dispuseram a ajudar. Jovens foram solidários a causa dos mais vulneráveis, a igreja se mobilizou no serviço social como nunca, procurando atender os mais vulneráveis socialmente.

6- Mudança na pregação. A mensagem escatológica, que diz respeito aos últimos tempos, voltou como um forte tema, porém o destaque ficou por conta da mensagem de fé e esperança, para aqueles que, isolados, se sentiam vulneráveis.

Mas é preciso encarar ainda novos desafios, entre eles o chamado "novo normal", o medo que ainda prevalece em muitos, a mudança no padrão pastoral, a perda da fé para alguns é o mais difícil a acomodação no tocante ao ajuntamento dos irmãos.

Esse chamado "novo normal" pode se instalar como uma filosofia e sepultar muitos dos hábitos e sentimentos das pessoas. O contato pessoal, o toque, o abraço podem não retornar ao convívio dos fiéis, produzindo um certo distanciamento, prejudicando a comunhão na comunidades dos salvos.

O medo de voltar a se ajuntar novamente pode levar muitos a permanecerem em seus lares, em especial os mais jovens, que são alvos fáceis das redes sociais e dos monitores, onde já passam bom tempo de suas vidas em vídeo games. Outros serão resistentes ao ajuntamento para a adoração e comunhão com medo de por em risco suas próprias vidas.

Para tanto, o padrão pastoral vai mudar nesse momento pós pandemia. O cuidado mais intenso com os "isolados" será necessário, inclusive com visitas pessoais. O cultos transmitidos pela internet vieram para ficar. Isso leva a uma nova postura no púlpito, uma vez que teremos maior visibilidade e nossas pregações ficarão expostas as críticas, inclusive dos não crentes.

Porém, o maior desafio na pós pandemia será o enfraquecimento da fé de muitos. Certamente muitos não retornaram mais para os cultos ou para a igreja. Não podemos precisar números nesse momento, mais um grande número se tornarão crentes virtuais, vivendo de cultos online, completamente afastados da comunhão dos demais, ou vivendo uma "comunhão virtual".

Mas quero terminar esse artigo tecendo comentários a capacidade da igreja em superar desafios. As perseguições, as leis, a discriminação social entre tantos outros, nunca foram capazes de parar a marcha da igreja, que, a despeito de tudo, segue caminhando. Muitos vão enfraquecer ou se perder ao longo da caminhada, mas outros se ajuntarão as fileiras de batalha. Assim iremos prosseguir até aquele grande dia.

Pr. Levi Libarino

Pastor presidente da Assembleia de Deus, ministério do Ferreira em São Paulo. Formado em Educação Cristã e Teologia pela Escola Superior de Teologia Evangélica. Presidente do Conselho de Educação e Cultura da CONFRADESP e relator do Conselho de Educação e Cultura da CGADB.

 

 

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